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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Qualquer coisa


Caminharam pelo praça calmamente, sem maiores pretensões. Por certo não queriam desfazer as animosidades. Mas o amor era intenso, bonito, lívido. O respaldo eram as mãos frias e sóbrias. Iriam enlouquecer, e isso era bom. Complascente, o velho senhor deitava a vista nos dois moços. Um vexame acudiu sua face, pôs-se a rir detidamente.
Ensaiou uma aproximação, hesitou, fracassou em seu intento.
Aquela jovialidade e frescor acuava o velho, moribundo, feição rota.
O abismo era de tal forma bem posto que não se via a disputa entre margens. Estavam distantes não por quilômetros, mas por um tempo eterno, dissonante.


O menino magro, rosto quente, nariz perfeitamente colocado. Parou um instante, tocou o céu da boca com sua língua. Sentiu o peso do mundo, e viu alí, exatamente alí, o que por muito quis evitar. Não eram mais par em par, vinte dedos, quatro olhos, duas genitálias. Riu ao perceber que não mais o queria. Um leve questionamento, mesmo após um beijo, não vislumbrou a possibilidade de tocar outra vez aqueles lábios.

Estava bom para um, sóbrio, elegante. O outro desfez-se em choros e convulsões. Rogou pragas, jurou mundos e fundos, clamou justiça. Coração ferido, preso em sua própria teia de paixões construídas.
Algo a fazer? Não, ouso uma pequena intromissão e tento aconselhar meus próprios personagens. Vá embora, ignore os transeuntes, dissimule, finja que está bem, e então estarás bem.


O senhor achou prudente uma intervenção. Do alto de sua sabedoria e do sucessivo número de desilusões, proferiu uma conferência sobre afetividade, provas de amor e desejo ambíguo. O jovem pouco gostava daquela fala interminável. Pediu licença, precisava de ar. Viu que estava só, atabalhoadamente tentava sair da armadilha. E com passos vagarosos se viu distante de tudo que não gostava...sorriu melindrosamente, e gostou de estar só.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O Carnaval


Sexta-feira foi aquela loucura...vontade de largar tudo, deitar a perder, fugir no mundo. Mas daí surgem as tais forças, e por fim estou no local da cerimônia.
Lucas, doce como sempre, esteve lado a lado, e quando fisicamente não poderíamos estabelecer um contato o celular trazia suas mensagens.


Cada palavra que saiu da boca do "celebrante" passaram detidamente por meus pensamentos. Termos como submissão, obediência, cabeça e tantos outros desencadearam um misto de raiva e indiferença.

Foi bonito pois estive próximo da família. Foi intenso porquê Lucas e eu quebramos aquela atmosfera heteronormativa. Foi um tanto rosa, pois pensei em casamento de uma forma que até então não me atentara.


Iríamos para algum lugar beber um pouco, flertar. Entretanto saímos tarde, preferimos o calor dos lençóis...e de manhãzinha: carnaval com o osmar na antiga capital do estado "Vila Boa".

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Na parede da terça-feira


Um certo momento guardado para três pessoas. E então é resgatar a primeira conversa pelos idos de 2006. Uma pessoa inconstante, que aparece e some dos olhos como a água que passa dos 100°C.

E que sorriso, e que simpatia.

Dóris, Mônica e eu fomos ao teatro, assistimos uma comédia um tanto interessante. Se não fosse pela histeria de um certo rapaz e sua risada estridente, em absoluto teria adorado a peça.

E cada dizer, frase de efeito, crenças deram um tom familiar. A história acontecia na pousada do rio quente, cresci um tanto perto, em Caldas Novas. Escutei muitas mulheres que partilhavam a rotina das estrelas da peça. Mulheres que não tiveram acesso à escola, maridos complexos, filhos, para levar ao cubo sua jornada de trabalho.

Ontem Dóris disse que o nome do meu blog é deveras engraçado. Na verdade não direi qual expressão ele utilizou. Mas não sei, gosto do nome vontades...gosto de ter vontades.

Segundo a wikipedia:

Vontade é a capacidade através da qual tomamos posição frente ao que nos aparece. Diante de um fato, podemos desejá-lo ou rejeitá-lo. Ante um pensamento, podemos afirmá-lo, negá-lo ou suspender o juízo.

Gostei da possibilidade de se perder o juízo, aliás, suspendê-lo. Levá-lo as alturas.

Seguindo uma classificação de um colega, ando monotemático. Ao menos no que ouço. Uma tal música do Caetano vem a cabeça, desperta sussurros e me pego sibilando. Olha, mas tais versos se encaixam e dão um ar de "isso, cante mais um pouco". Deixo cá um trecho, e também da música interpretada por Maíra(Sim, a que participou do Fama) no canto de ouro.


Não me arrependo
Caetano Veloso

eu não me arrependo de você
cê não me devia maldizer assim
vi você crescer
fiz você crescer
vi cê me fazer crescer também
pra além de mim

não, nada irá nesse mundo
apagar o desenho que temos aqui
nem o maior dos seus erros,
meus erros, remorsos, o farão sumir
vejo essas novas pessoas
que nós engendramos em nós
e de nós
nada, nem que a gente morra,
desmente o que agora
chega à minha voz.



pra que vc entenda
Casa Bizantina

...Escute bem eu não vou voltar
Pra que você entenda
Olha só já me equilibro bem
Hoje vou ao cinema...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

TCC


Opa, ainda meio zonzo, disparatado. Com uma manhosa chuva de trilha sonora, faço minha matrícula. Nossa, a cada núcleo que vou passando vejo que já fiz quase todas. Sinto um medo, uma nostalgia, mas é uma sensação deliciosa.

Concluo no fim do ano Comunicação Social com habilitação em Publicidade.
Lembro muito dos primeiros dia da faculdade.
Rafa e eu comemorando no Vaca Brava, dias depois a primeira matrícula. Ihhh, a primeira semana de aula. Cheios de sonhos e esperanças...deste dia até hoje não perdi nenhum dos meus sonhos, pelo contrário, acrescentei muitos outros.
Adicionei também mais motivos para realizá-los.
Tempo delicioso, pessoas incríveis e uma brusca transformação na forma de ver e sentir o mundo.

Estou feliz por ter mais uma matéria com a Aline.
Noite de ontem...hummm...Como fomos parar na saída da cidade? Sei que a música estava alta em demasia, pessoas exageradamente construídas e um rapaz que despertou uma reação inesperada.

Nunca ouvi uma coisa tão estúpida de alguém tão bonito. Entreguei-lhe o copo, disse três frases raivosas e sensatas, e fui a procura dos amigos. Perdemos a chance de um bom diálogo, aliás poucos estão dispostos a dialogar, descubrir, conhecer. Querem o imediatismo, o efêmero. E viva a obsolescência dos corpos!!!


Uma pergunta? Qual o motivo de muitas músicas em baladas não terem letra, e a aversão a língua portuguesa?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Os amigos


Olha moço, as férias são necessárias, contudo, elas nos separam implacavelmente das pessoas que dividem um pouco do cotidiano. Osmar já voltou de terras baianas...e o Dudu? Hummm, ele continua pela Europa, e cá deixa um mar de saudades.

Ontem foi um dia curioso, no fim do dia consegui a liberdade da preguiça sufocante. A nanda passou pela cidade, e falamos sobretudo de egoísmos e abandonos. Quando ela contava sua história sentia arrepios e um deja vú...sei bem o motivo. O Davi interveio, tentou dissuadí-la, mas conheço a tal Nanda, e alí naquela cabeça há um emaranhado de mistérios.

E no fim da noite ainda exercitei um pouco do controle e digamos, um certo altruísmo. Confesso: foi por um certo sorriso do menino da computação, e de suas meias mensagens que tanto gosto.

Um poema para os "amigueiras" duduzeira e osmarzera do Vinicêra:

Saudade

Patativa do Assaré
(Antônio Gonçalves da Silva)

Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.

Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.

A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira
Quanto mais coça mais quer.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

É samba que eles querem...


Ontem comemoramos o aniversário da Ana Júlia. Foi gostoso ovir alguns sambas que deixam as mãos na caça por um batuque.

"Meu moreno fez bobagem, maltratou meu pobre coração...aproveitou a minha ausência e botou mulher sambando no meu barracão."


Já sabia quem iria encontrar naquele lugar. Dito e feito, lá estava Lígia com seu alto-astral contagiante. Falamos, falamos e falamos. Deixei-a a par dos últimos acontecimentos e planos futuros. Ela é muita energia...


Amanhã cedo vou a Brasilia, uma reunião no Ministério da Justiça, especificamente na Secretaria Especial de Direitos Humanos.
Quero muito ver a Rafa... muito mesmo.


E as coisas vão se encaixando, sabe. É como quando temos que fazer um almoço ou jantar. Vamos ver o que temos, e faltam coisas ,sabores e estratégias. Ai surge o novo. Que tal usar isso, mexer um pouco assim, pegar o que ficou da refeição anterior. Então, uma surpresa, alí se forma um delicioso prato. E faremos isso, viveremos assim, reinventado... ressignificando.


Li em um blog uma análise sobre a música Rato da Palavra Cantada, amei.
Um texto sutil, envolvente. E o que mais gosto: promissor. O que nos moveria se não tivessemos promessas de vida?

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A casa do fim do mundo


Ontem no baile do reino de xoxotópolis vi algo assustador. Entre baile funk e o álcool, uma moça atravessou uma porta de vidro com seu impacto. Marcelo e eu corremos em sua diração para prestar alguma solidariedade. Entretanto, ela apenas insistia que não comentássemos com ninguém. Como se fosse fácil ocultar os estilharços.

Lembrei do filme A casa do Fim do mundo, quando motivado por uma viagem de LSD o irmão mais velho atravessa a porta de vidro e tem uma artéria atingida, não resistindo aos ferimentos. O engraçado foi Dóris perguntando quando o contei: ela estava viajando no LSD? " sei lá...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A Adélia de novo...


Ao som de The Temptations - My Girl. Retomo o lindo poema de Adélia Prado: Casamento...mas com mudancinhas que caia em meu contexto. Mesmo sendo vegetariano, não há palavras para descrever tal cena, e a vontade de vivenciá-la.

Casamento


Há homens* que dizem:

Meu marido, se quiser pescar, pesque,

mas que limpe os peixes.

Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,

ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

de vez em quando os cotovelos se esbarram,

ele fala coisas como "este foi difícil"

"prateou no ar dando rabanadas"

e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,

vamos dormir.

Coisas prateadas espocam:

somos noivo e noivo*.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Amores Perros


O sangue ainda é uma barreira, e ainda estou a refletir se há alí uma oportunidade de trauma ou uma gratuidade de mortes dos pobres cães. O filme vai um pouco além, engedra histórias que são absolutamente possíveis, e intimamente familiar.

O sotaque mexicano é delicioso, e fraqueza e a traição irmãs que despertam dores.
E o abandono dói, mesmo quando o que se foi é motivo de espera para o que ainda está. Lindo filme, linda companhia.


Eu ando as avessas com o povo goianiense. As pessoas ficam incomodadas pelo simples fato de alguém se sentar num lugar no ônibus não muito convencional.

Quem sabe não é o povo desta cidade, e sim uma epidemia humana, que não consegue se ajustar as diferenças deste a opção por sentar no chão em frente a porta de saída do coletivo. Ao ponto de insistir na imposição de crenças até mesmo por mensagem no celular, aqui transcrita: " A cura de nossos males esta em nos tornarmos melhores seres humanos cristãos.


As pessoas deveriam se envergonhar ao se autodominarem cristãs. A figura de Cristo é a mais inclusiva que conheço. Ele ouvia as crianças, caminhava com prostitutas, tocava em leprosos. E o que as empresas de fé fazem hoje? Normatizam e excluem como já atentara o Dóris. É duro ir para esse reino perdido, afinal qualquer passo nos leva fora da norma.

E não quero apenas passos fora da norma, quero quilômetros...
Ainda bem que nem todos são brancos, heterossexuais, cristãos, europeus... ainda bem que habito as margens.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Um quarto de chocolate ou o Alto da Glória


Ao diabo com a falta de umidade.
Apesar da saudade intensa desta cidade, a secura persegue meu pobre nariz, e é intensamente praguejada nas entreconversas muito adequadas com amigos.

Sempre tive medo do cominho, nunca soube usá-lo com parcimônia, tragédia feita. Como esse tempero é capaz de absorver todas as especificidades daquela lasanha tão especial. Mas a fome do Dóris é capaz de deixar na dúvida se a pirraça não seria fruto das minhas implicâncias com tal condimento.

O Bruno deixou uma interrogação em minha cabeça. Creio que ele não achou muito pertinente suco de caju com chocolate. Mas caju é algo tão intenso, aí lembro de algo mais intenso que é a cajuína, que por mais que pesquisei não entendi se não mais posso consumí-la. Não encontrei respostas sobre sua verdadeira origem, e se de fato tem gelatina de origem animal.

De Teresina também tenho mais lembranças, o vôo que devolveu-me a goiânia teria seu destino final na capital piauiense. E não é que encontro um menino que ví de relance na UFPI, e com sorte tinha a seu lado um assento vago que avidamente me ofereci a preenchê-lo. E pasmem, ele também lia Crime e Castigo, e ele também sofrera desilusão semelhante em São Paulo. Prometemos mais que nunca mergulharmos em dignidade , e um acordo tácito reconfortou a última secreção lacrimal expelida para criaturas que não merecem a classificação de humanos. Ele riu quando comentei que na verdade os cavalos que deveriam tratar de um certo humano. E aquele humano ( que não é humano, se buscarmos nas atribuições que o termo deita sobre nossos ombros) deveria propor uma terapia com o cavalo, mas o quadrúpede que se ajeitaria a dar conselhos e com pouco sucesso dar liçoes valiosas de solidariedade, respeito e caráter.

Ora o caráter é algo que se a boa educação não se atreveu a imbuir, um coice talvez resolva este déficit. E isso, além de bons conselhos, há de ser com uma intensidade que desloque belamente para a esquerda aquele maxilar. E chore mesmo, porque o choro que lhe atormenta e a sua necessária medicalização da vida não serão suficientes para te elevar a categoria de humano, e quiçás a de um cavalo, ser que vive em uma existência superiormente interessante.

Ps:
Bruna e Ana Júlia: Depois do 193 Alto Da Glória e do bom filme, o 1/4 de chocolate era para vocês!

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Almodovariano


Como explicar?


Bom, não sei bem, talvez inexista razões, ou quem sabe eu precisava de uma boa sova da vida.


As coisas iam titubeando, tateando novos rumos. Confesso que manejei o que pude para não ver se desfacelar. Mas aí entendo, sei que não podemos agir além de nossas mãos, que há muita subjetividade no outro, e também muitas dissimulações.


O ocorrido de sexta para sábado faria a personagem Lola de todo sobre mi madre parecer apresentadora infantil.


Acho que não era o melhor momento para o que se sucedeu, ainda mais terminando de ler Crime e Castigo. Quem sabe essa lição oriente um pouco mais os meus passos. Confesso que foi doloroso, sofrível, decepcionante. Eu menti, omiti e interpretei. Entretanto, ele mentiu, machucou, feriu. Como uma avó matando um frango enforcado, foi o que ele fez. E andar errante pela capital paulista, com malas pesadas. Maldita hora em que a Tam quebrou as rodinhas da minha bagagem...tudo foi se encaixando, como um bom roteiro mexicano.


Escrevo estes caracteres em minha última noite nesta cidade, amanhã estarei com meus pares, minha família de amigos.


Vai passar, tudo passa.