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terça-feira, 29 de abril de 2008

Mona, Meu Grande Amor


Qual o nome da Mona? Não sei, por certo seja melhor chamá-la assim: Mona, suave maneira de dizer. Palavra tão pequena, mas tão rica, vasta, extensa,como aquela que carrega no corpo mais que um nome, marcas de uma intensa conversa com o mundo, com a mente, negociatas persistentes.
Grande revelaçao lhe sucedeu em um baile dominical, era apenas ela na pista, a luz lancinante, os sussuros soltos para todos, reinvenções. O corpo era de poucos, singelo, lívido. Todos eram almas, carregadas de desejo, inspiração. O entusiasmo fazia-se de reticências, pouca prosa, todos os dedos. Sugeriram algo para lhe fazer flutuar, mas para que drogas se a vida já lhe é por de mais entorpecente?
Sorriu para a faxineira, estava alí, em seu mundo higienizante, algo a incomodava, não sei se o estrondo e fúria de libertação que conduzia a noite, ou pelos excessivos lixos que eram entregues à solidão do chão. A senhora do lixo confessou-lhe coisas que mexeram com seus brios. Não soube responder a altura, perdeu o sustento de suas pernas, o espartilho sufocava de uma maneira ortodoxa, caiu em prantos, precisava de algo para viver,para se sentir gente: "Coisa não sou, sou pessoa,pessoa,pessoa"...ecoaram verdades, o baile morreu.
Pegou ônibus, baldiações, cruzou norte sul, fez-se forte quando não era, mentiu para a amiga, " bobeira minha, isso passa", inverdades a parte, a senhora lhe incomodava, ainda. O que a faxineira disse para Mona? Não sei, Mona não quer falar, não pode falar, impingem o silêncio, e agora sem mais lutar aceita condescendente o seu lugar, o indizível mundo, o invísivel ser.
O que sou? Mona inqueriu a si, mas não queria respostas, sabia como queria viver,mas não queria nome, não entendia a razão de tantas coisas a serem atribuídas, passiva ativa, siliconada hormonizada, feminina piranha. Ela não era uma dicotomia,era uma pessoa...professou.
Estava quase morta, cabreira, apurrinhada, parecia menino que acabava de fazer danação, a figura da avó gritando: Não faça "narquia", mas ela não fez " narquia", ou talvez seu corpo seja uma "narquia". O pai estava há alguns anos em sua cabeça, a surra de fio de telefone ainda estava bem fresca, apalpou suas cicatrizes, tocou com ressalvas nas marcas intangíveis, a liberdade era obrigatória, ensaiou alguns passos no espelho, mandou beijos e acenos, estava completa.
a vida costurava suas histórias, não permetia um ponto sem nó, era tudo segredo, peças imbricadas, armadilhas rizíveis, secreções, sabores, momentos. Ainda era matéria pura e também composta, era carbono, enxofre, estrogênio, adrenalina, sal, fezes, saliva, pêlos, silicone,testosterona...a barba era desfeita, cotidiana. A música lhe fazia mulher, não poderia ficar em casa, estrelas reluzem, precisa sair. Aferiu que já era dia, sua saída foi sabotada pelo sol, contentou-se em ir buscar pão, sorrir para os transeuntes.

domingo, 27 de abril de 2008

A mona é delicada, graças as deusas


A mona, alí e autêntica, tão construída, insegura de suas certezas e franca nas omissões do diálogo. Ela percorre caminhos em uma sociedade peculiar, o locus é goiânia, cidade quente e amarelada. Ela desvenda os camelódromos, caminha até a plataforma do eixo anhanguera ( agora mais caro, um pavoroso aumento de 110%), compra o brilho labial, o óculos enorme e efusivo, samba no frenesi de gritos e sussuros..Viado, olha lá o viado. Mas a mona continua, vai fazer suas três refeições, sorri gentilmente para o moço que afaga sua mala e a convida para a confluência de suores por longíquos quinze minutos.
Ela sorri para a vizinha, escuta que o aluguel está vencido, o gás foi cortado e as camisinhas do governo estão em falta no postinho do bairro. O prato feito aumentou e a quantidade de feijão foi reduzida, mesmo com esse quadro ela ainda não se sente motivada para encampar a luta das donas de casa para redução de preços. Ela usa shampoo para cabelos tingidos, com pérolas do pacifico, contudo o brilho não está a altura da Aline Morais, e as pontas duplas insistem em desestabilzar a formozura herdada por sua avó.
Tira da gaveta dois retratos amassados e fruto de uma nikon 82, as faces que se misturam na moldura são de duas monas autênticas, cirurgiadas pela natureza, que tem fenda e barriga redonda. Mas ela não se incomôda, serei como Marta Rocha, terei meus amores, pavores e sorrisos. Ganharei flores no dia de nosso amor, bombons no dia de são valentim, e faremos crisma pra casar na igreja católica. Ela se vestirá de noiva, um noiva que demonstre limpeza, asseio, o decote contemplará o bom investimento em hormônios, os passos serão breves e entusiasticos, casarão e felizes talvez.
Mona sentou na cadeira de plástico, a face magra comida pelo dia promissor, passou a mão pelos cabelos, ajeitou qualquer coisa no cabelo, disse para si: sou feminina. Ela precisava acreditar na assertiva que pronunciara, sorriu para sua cadela e relaxou os pés molestados pela vida. Pesquisou na cozinha qualquer coisa para dissimular a fome, pediu para a bichona do lado dois ovos e uma salsicha, mas sem nenhuma conotação fálica, apenas para mastigar a profundidade de suas confusões.
Do lado da sua mangedoura do amor estava uma edição qualquer do jornal Daqui, folheou despretenciosamente, chegou em algo que lhe confundiu e a acalantou, "serei uma miss", balbuciou!
e lá foi ela com um retrato 3 por 4, uma de corpo inteiro e traje de gala, e outra de motivos litorâneos, com plenitude seria a miss eixão.