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domingo, 1 de junho de 2008

Valisère


O mundo de seduções, aparatos de felicidades fugazes e um pôr-do-sol no tablado da casa de veraneio. Seria assim para todos, nada de ruas sujas, pessoas imundas, degradadas. Barrigas não roncariam e os melhores manjares noite e dia, banquetes dionísicos. Cervejas caras, amêndoas do oriente distante. Tecelagens finas e delicadas, concebidas por senhoras atemporais, quase cegas.

O vilarejo seria em toda parte, em Maceió ou Havana, talvez Macau ou Jacarta. O detalhe é a praia, o ócio nas espreguiçadeiras, camarões e exotismos, tudo que nossa pátria oferece e cristaliza como símbolos.

Em trinta segundos uma vida ali mostrada. Como era completa e única ao adquirir o automóvel, ligar do celular que poucos tinham. Amar muito tudo isso ao almoçar, diferenciar-se das multidões, disfarçando-se de multidão.

Perfumes, anéis, Paris. Um suco com soja galgando a eternidade, sabores da cama, mesa e banho. Tentações. O que ela precisava era algo mais, ou talvez bem menos. Entre os bilhões de chineses na terra (mesmo como o terremoto), está no leste e pontos cardeais pouco acrescentam em sua vida.

Engatinhou na província de Zhejiang, em silêncios, torturas, desejos. Seu infinito segredo, insistente momento. Observara em outras meninas a menarca, as regras, os dias. O fluxo do limiar menina-mulher. Ingrata, não a visitou. Tal desaforo causava choros e cólicas. Por cinco dias contorcia-se, com seu sangue incolor, com sonhos descamados do endométrio.

Em plantações de arroz, nos campos alagados não existia dismorfismos, tampouco olhares inquisidores. Cresceu na relva, a espiar meninos no rio, o circo e as artes da vida. Via meias de seda, passos na fonte e nos varais inúmeros soutiens. Do outro lado do mundo, em TVs e outdoors, uma menina caminhava pela rua, corada, sentindo-se mulher. Usava seu primeiro soutien. Não eram algemas, era seu potencial de liberdade e experimentação. Talvez a armadilha binária que não se desvencilharia.

A trans da província chinesa ignorava grifes e marcas, não as conheciam. Queria o recheio para a lingerie. Sentia o tempo, o respeitava. Guardava para si aquele pedido, se soprasse velas pediria a fumaça suas maçãs. Acariciava lentamente, como se brotassem aos poucos, sorrateiros. Surgiram com o passar vagaroso da vida. Em 26 de julho de 2004, ressignificou-se. Experimentou seu soutien, não importava o nome ou marca o primeiro soutien a gente nunca esquece.

Um comentário:

rogerioborges disse...

Olá, Vinicios. Escrevo para agradecer o comentário em meu blog e dizer que também gostei do que li no seu. Achei os textos interessantes e bem escritos.
Abraço.