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domingo, 11 de dezembro de 2011

O Céu de Goiânia


Quando deito em minha cama posso escolher entre ignorar o que está lá fora, enquadrado pela janela, ou posso  olhar atentamente para alguns detalhes do céu dessa cidade. Se olho para fora, vejo as vezes mais do que quero. Posso olhar uma ou outra luz do prédio em frente, a sacada ornada com samambaias e outras pteridófitas. Mas se há razão para evitar um olhar mais detido e demorado é porque ela emana sufoco e as minúcias de algo que se acabou.

Certa vez, nessa mesma janela, ficamos contorcidos por um tempo. Um breve tempo, menor, pequeno, sem necessidade de contas ou cronometragem. O que nos interessava era mais a ação, e por conseguinte a cumplicidade, do que a duração, que via de regra é efêmera, para não dizer rarefeita. 

E ele se alimentou da minha comida, deitou em minha cama, assistiu meu filme.E foi embora, simplesmente. 

"me chegou
Como quem chega do nada:
Ele não me trouxe nada,
Também nada perguntou.
Mal sei como ele se chama,
Mas entendo o que ele quer!
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher."


Não satisfeito de todo esse abuso, esse posseiro arrendou a terra e depois partiu. Colonizou, para não cuidar, não plantar. Colonizou pra perceber que tantas outras terras sustentam seus pés e correr mundo, boca, corpo, colo, saliva, sêmen é o que o leva dos meus frágeis domínios.  

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