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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O menino estranho

Manoel de Barros

Ontem eu estava estranho. Mais estranho que o habitual, agarrado em mim em um leve desespero. Tive que ir ao banco, cruzar avenidas encharcadas, correr contra o relógio.

Sufoco.

Reencontro.

Um abraço afoito, com ênfase, um frenesi. Não entendi muito bem, posto que não nos vemos/conversamos há tempos... Não, não. Não me refiro a uma ausência que gera euforia no reencontro, falo de um afastamento doloroso, tácito.

Mas foi bom o abraço, e talvez até mesmo aquele telefone. Quem sabe aquela grande amiga, da cadeira de trás, do ensino médio... volte!

Árvore - Manoel de Barros

Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus
seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor
o azul
E descobriu que uma casa vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só serve pra poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,
envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros
e tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos. Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore porque fez amizade com muitas borboletas. 

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