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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Reinações



Estive pálida, murcha como uma laranja chupada, espremida, acuada. Olhar para a rua era o começo de tonturas, tremores, suores. Precisava viver. Comentei com Kelly sobre meus traumas, ela foi ríspida: Saia dessa mona! Vá para a pista batalhar, trauma de bicha rola no rabo resolve.
As palavras foram aquecedoras, os remédios queimaram minhas economias, estava maltrapilha, moribunda, alimentando-me do que Kelly retirava da rua. Coloquei minissaia plissada, blusinha brilhante, batom rosa, saltinho, Mona quente, implacável.
Fui ao balança brasil tomar um conhaque, aquecer, me fazer gata, corajosa, chamar meus amores “reais”, chupar pau, virar meu cú, comer cús conjugais. Cheguei ao centro, confusa, mais um gole e estaria curada das lembranças da”cirurgia”. Desci pela Paranaíba, busquei senhores, meninos, mulheres, ninguém queria trepar nessa noite, a concorrência imensa, bonecas recém-chegadas do Europa, com ares italianos,modos afrancesados,verdadeiras “etóiles”.
Todas partiram depois de uma noite meia bomba. Não fui, caminhei pelo centrão, percebi detalhes, imaginei minha vida naquelas vielas, morando em casa com varanda, cama de casal, cozinha grande e toda na cerâmica, com mãe, cachorro e pamonhas no fim da tarde. Sentei embaixo de uma manguba, no limiar noite dia, levemente descanso.
O frenesi amarelo se instaura, ônibus embriagados cortam a cidade, ouviram-se buzinas, sussurros, fadigas. Goiânia quente e abafada, trêmula com excesso de chumbo, similar ao bebum qualquer que ingeriu respeitosas talagadas do mais barato aguardente vendido na mercearia paraíso.
Hoje é um dia especial, a art’deco grita e pede socorro, as fachadas são implacáveis, há de tudo um pouco para evidenciar a fracassada idéia de contemporaneidade, tecnologia. A Avenida Goiás firma-se como bueiro emancipado da cidade monocromática, reluta, agoniza, é em vão, o próximo prédio abrigará mais um atacadista, que com suas insistentes promoções, colocará em troca de suaves prestações comodidade e austeridade nos lares goianienses.
Goiânia está européia, sugestionável. Dei-me conta de que ela é uma mulher, siliconada, plástica, moldável. Que entre as dezenas de homens que envergaram brasas e misérias sobre suas costas,ela finamente reergue-se, travesti-se de concreto e petróleo
Infeliz cidade, cirurgiada por natureza, refestelando-se das roupagens em migalhas, abrigando em teu seio os perdidos que Goiás vomita. Assanhada, serelepe,conduz vidas e histórias. Escuta soluços, chora copiosamente a ausência de seus pares. Comporta gente de toda sorte, até mesmo aquela moça sem pau que se põe a sonhar na quentura de sua manhã.
É uma jovem senhora, imponente, arredondada, voraz e complacente. Busco seu rosto, esfrego as mãos pelo asfalto para sentí-la. Preciso dizer o quanto me enamoro por ti amarelada cidade, não sei como entregar-me indubitavelmente para ti, então decido renomear-me, repaginar esse suporte que sou, escrever sobre suas avenidas uma outra história, agora me chamo Goyanny, abuso de bela
!

5 comentários:

Lucas Carvalho de Oliveira disse...

Pelos últimos dois textos eu tinha me esquecido da goianidade. E não é que cá estamos na cidade amarelada? Hum, que vontade de pamonha! Só a trocaria por um empadão com bastante queijo.

Aos cuidados de mangubas e gameleiras velhas e ocas eu me esconderia da infelicidade do sol poerento. Será que é trauma de bicha?

Dóris... em outras versões!!! disse...

billl... essa mona ficou muito intelectualizada, reflexiva e poética!!! que teoria do desenvolvimento cognitivo humano explica tal fenômeno???? acho que nenhuma!!!! kkkkkk... mas que o texto ficou tudo, isso ficou!!!! continua arrasando nos caminhos e descaminhos da mona!!!!

Ilma Fatale disse...

heam heam...
copheso que não táva muito creditada com isso aqui. textos anteriores mediocres,no sentido de medio mesmo. mas, reinações é um sopro de esperança. textobão!

precisa dar um limpada no meio de campo. definir mió sua linguagem. vomitar menos e aos poucos o que te mió. depois dou um voltada ici.

suerte, chica!!!
beso de une etoile

Anônimo disse...

Goyanny... fênix renascida!!

Discordo do comentário acima, apesar de respeita-lo.
Críticas construtivas para você, meu amor. Mas não vejo assim...

Me delicio com seus textos, tão bem descritos e cheios de sentimento.

Continue assim...
saudades xD

Karine disse...

Concordo que cresceu em qualidade neste texto. Conseguiu inserir assuntos universais dentro das particularidades, em uma linguagem que se define aos poucos, torna-se mais limpa e traça os contornos de um estilo seu.

Muito envolvente, também. Parabéns. Beijo.