sexta-feira, 16 de maio de 2008
chá das mães
Conversam, eita jeito bom de passar uma tarde. Lá nos perdidos da memória há pedacinhos que colados evidenciam sua rara sede de passado. Era o tempo, esperar pelo que viria, dizer coisas para outrém, imaginar como tal criatura tomaria forma humana, o que pensaria, o que seria.
Rumores, barulhinhos, expectativas. Conduziu por rígidas e tênues mãos aquela criatura. Falou do mundo, dos medos e pecados. Insistia em acordá-lo pela manhã, ir para o grupo, ler com tia marlúcia, comer arroz doce no recreio. Aquelas tardes eram quentes e eternas, o tempo de menino escalava portas e janelas, sempre abertas para a serelepe criança conduzir suas atinações.
Dias seduzidos pela televisão, pela insistente sessão da tarde, desenhos incontáveis, maçãs frescas compradas as pressas. Inquietudes. Mãe e avó faziam-se mais que mulheres, eram abraços certos e prendas no fim do dia. Mesmo que bulissem com o menino iam a galope contornar tal desaforo.
Cidade pequena, imersa em complexidades de uma mente pueril. O desejo era pelo mundo, que por tão tenra idade ainda lhe era censurado. Afrouxou o tempo, dias mais maleáveis, na companhia de crianças crescidas. Iam pro mato, brincavam tardes, noites, negociavam biscoitos em troca de um toque. Por hora, desejos mais incontidos, ávidos por uma louca liberdade,mãos suadas, mães preocupadas.
Repetia-se, uma brincadeira consolidada, esperada,mas entra tantas crianças e mais velhos um sempre despertava mais atenção, vontade de brincar mais, tocar o que de grande assaltava a boca com um susto, sucções generosas, contrações suavemente permitidas. Era assim, gostavam. Amar aos oito anos era caro para uma pequenina cidade.
O sofrimento materno era uma convulsão, gemidos cortantes, cabelos brancos, rugas que escreviam na face a contrariedade e impotência. Mães são imperfeitas, indissolutas, filhos acentuam a imperfeição. Consumiam-se no vazio das conversas. Traçaram dois destinos onde intencionalmente a distância é acionada. Dois desconhecidos tentando acreditar no instinto materno, buscando em fotos de revistas, jardins da metrópole e em conversas matinais um conforto para suas vidas.
Sábia senhora, educada por rasteiras e desilusões amorosas. Tombos calejantes, orgasmos negados, choros engulidos quando a ofensa ecoava na tarefa higienizante do lar. Talvez não soubesse amar, ninguém a ensinou. O que amava fazia por sua paupérrima grámatica. Era insuficiente, sabia disso.
O seu fruto não é doce como concebeu há tempos. Um caroço existia, maior que o esperado, fardo para costas que não contavam com excesso de trabalho. Mas era filho, e mesmo rompendo o mundo que desenhou na agenda de 1989 ainda o sentia próximo do teu seio. Alimento certo, alí ainda pousaria para dirimir conflitos,nortear sentidos. Eram comum em suas dores, iguais como nunca pensaram. Mãe e o filho, sequência imprópria e tão certeira.
Na intimidade das paredes brancas é mais confortável enfrentar os diálogos. O desafio é sentar com a vizinha, sussurar para a amiga no trabalho, viver junto com o filho fora do armário. Nos logradouros e instituições da vida é que mãe se põe a prova. O repouso garante-se no enfrentamento, nos olhos marejados que acredita na capacidade transformadora do amor de seu filho. Ela está pronta. Você está?
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2 comentários:
lindo!!! confesso que me emocionei... suas escritas só melhoram a cada postagem!!! Eu imagino o quanto seria importante pra vc se sua mãe estivesse hoje aqui... no chá!!! um dia ela estará! Não podemos perder a fé nas pessoas... elas sempre podem nos surpreender!!! fique bem! beijos
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