domingo, 27 de abril de 2008
A mona é delicada, graças as deusas
A mona, alí e autêntica, tão construída, insegura de suas certezas e franca nas omissões do diálogo. Ela percorre caminhos em uma sociedade peculiar, o locus é goiânia, cidade quente e amarelada. Ela desvenda os camelódromos, caminha até a plataforma do eixo anhanguera ( agora mais caro, um pavoroso aumento de 110%), compra o brilho labial, o óculos enorme e efusivo, samba no frenesi de gritos e sussuros..Viado, olha lá o viado. Mas a mona continua, vai fazer suas três refeições, sorri gentilmente para o moço que afaga sua mala e a convida para a confluência de suores por longíquos quinze minutos.
Ela sorri para a vizinha, escuta que o aluguel está vencido, o gás foi cortado e as camisinhas do governo estão em falta no postinho do bairro. O prato feito aumentou e a quantidade de feijão foi reduzida, mesmo com esse quadro ela ainda não se sente motivada para encampar a luta das donas de casa para redução de preços. Ela usa shampoo para cabelos tingidos, com pérolas do pacifico, contudo o brilho não está a altura da Aline Morais, e as pontas duplas insistem em desestabilzar a formozura herdada por sua avó.
Tira da gaveta dois retratos amassados e fruto de uma nikon 82, as faces que se misturam na moldura são de duas monas autênticas, cirurgiadas pela natureza, que tem fenda e barriga redonda. Mas ela não se incomôda, serei como Marta Rocha, terei meus amores, pavores e sorrisos. Ganharei flores no dia de nosso amor, bombons no dia de são valentim, e faremos crisma pra casar na igreja católica. Ela se vestirá de noiva, um noiva que demonstre limpeza, asseio, o decote contemplará o bom investimento em hormônios, os passos serão breves e entusiasticos, casarão e felizes talvez.
Mona sentou na cadeira de plástico, a face magra comida pelo dia promissor, passou a mão pelos cabelos, ajeitou qualquer coisa no cabelo, disse para si: sou feminina. Ela precisava acreditar na assertiva que pronunciara, sorriu para sua cadela e relaxou os pés molestados pela vida. Pesquisou na cozinha qualquer coisa para dissimular a fome, pediu para a bichona do lado dois ovos e uma salsicha, mas sem nenhuma conotação fálica, apenas para mastigar a profundidade de suas confusões.
Do lado da sua mangedoura do amor estava uma edição qualquer do jornal Daqui, folheou despretenciosamente, chegou em algo que lhe confundiu e a acalantou, "serei uma miss", balbuciou!
e lá foi ela com um retrato 3 por 4, uma de corpo inteiro e traje de gala, e outra de motivos litorâneos, com plenitude seria a miss eixão.
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3 comentários:
vinny...
é um presente ler seus textos, sempre tão carregados de vida! Vida vivida por você e por outros que o cercam, vida de seres humanos em busca de paz, simplismente. Sua narrativa tão perfeita, me fez visualizar casa detalhe. Me lembrou de Clarisse e sua rica linguagem.
Te admiro, sempre.
És um vencedor, e assim como a mona sonha em ser miss eixão, tenho certeza que seus sonhos voam alto.
Amo... dizer mais o que?
Sensível e real.
A-ha-zou na estréia (bom, ao menos estréia pra mim)...
Já está nos meus favoritos.
Dan
A realidade se fez presente em cada detalhe...
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