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Qual o nome da Mona? Não sei, por certo seja melhor chamá-la assim: Mona, suave maneira de dizer. Palavra tão pequena, mas tão rica, vasta, extensa,como aquela que carrega no corpo mais que um nome, marcas de uma intensa conversa com o mundo, com a mente, negociatas persistentes.
Grande revelaçao lhe sucedeu em um baile dominical, era apenas ela na pista, a luz lancinante, os sussuros soltos para todos, reinvenções. O corpo era de poucos, singelo, lívido. Todos eram almas, carregadas de desejo, inspiração. O entusiasmo fazia-se de reticências, pouca prosa, todos os dedos. Sugeriram algo para lhe fazer flutuar, mas para que drogas se a vida já lhe é por de mais entorpecente?
Sorriu para a faxineira, estava alí, em seu mundo higienizante, algo a incomodava, não sei se o estrondo e fúria de libertação que conduzia a noite, ou pelos excessivos lixos que eram entregues à solidão do chão. A senhora do lixo confessou-lhe coisas que mexeram com seus brios. Não soube responder a altura, perdeu o sustento de suas pernas, o espartilho sufocava de uma maneira ortodoxa, caiu em prantos, precisava de algo para viver,para se sentir gente: "Coisa não sou, sou pessoa,pessoa,pessoa"...ecoaram verdades, o baile morreu.
Pegou ônibus, baldiações, cruzou norte sul, fez-se forte quando não era, mentiu para a amiga, " bobeira minha, isso passa", inverdades a parte, a senhora lhe incomodava, ainda. O que a faxineira disse para Mona? Não sei, Mona não quer falar, não pode falar, impingem o silêncio, e agora sem mais lutar aceita condescendente o seu lugar, o indizível mundo, o invísivel ser.
O que sou? Mona inqueriu a si, mas não queria respostas, sabia como queria viver,mas não queria nome, não entendia a razão de tantas coisas a serem atribuídas, passiva ativa, siliconada hormonizada, feminina piranha. Ela não era uma dicotomia,era uma pessoa...professou.
Estava quase morta, cabreira, apurrinhada, parecia menino que acabava de fazer danação, a figura da avó gritando: Não faça "narquia", mas ela não fez " narquia", ou talvez seu corpo seja uma "narquia". O pai estava há alguns anos em sua cabeça, a surra de fio de telefone ainda estava bem fresca, apalpou suas cicatrizes, tocou com ressalvas nas marcas intangíveis, a liberdade era obrigatória, ensaiou alguns passos no espelho, mandou beijos e acenos, estava completa.
a vida costurava suas histórias, não permetia um ponto sem nó, era tudo segredo, peças imbricadas, armadilhas rizíveis, secreções, sabores, momentos. Ainda era matéria pura e também composta, era carbono, enxofre, estrogênio, adrenalina, sal, fezes, saliva, pêlos, silicone,testosterona...a barba era desfeita, cotidiana. A música lhe fazia mulher, não poderia ficar em casa, estrelas reluzem, precisa sair. Aferiu que já era dia, sua saída foi sabotada pelo sol, contentou-se em ir buscar pão, sorrir para os transeuntes.